Varginha será palco do Cineclube. O município sediará um espaço democrático, educativo, político, que contribui na formação de público com a exposição de cinema a céu aberto.
Denominado como Cinemaz, o cinema outdoor é uma proposta de trazer produções do audiovisual brasileiro para a região. Incentivar a indústria e oferecer visibilidades a obras que não têm espaço para exibição nas salas de cinemas comerciais.
Em uma tela de 10 metros, os filmes independentes serão rodados na MAZ – Associação Artística Marina Azze para um público de 100 pessoas com exibição semanal. Marina Azze, atriz, fundadora da MAZ e idealizadora do projeto Cinemaz, destaca que a experiência será única e de alta qualidade, “o som, todos vão assistir ao filme individualmente pelos seus fones de ouvido com a qualidade perfeita e sem atrapalhar as pessoas na rua”.
O catálogo de exibição será programado por três cineastas e produtores de cinema, de fora, convidados por Marina, Lucas Marques (Rio de Janeiro), Vic Kings (São Paulo) e Marcelo Cesar Silva (Belo Horizonte). “A ideia é começar com o beabá do cinema, desde os primórdios, para a galera ter acesso a cada período histórico do cinema”, ressalta.
Após a exibição da película sempre haverá um debate entre o público, com pessoas relacionadas ao filme e o tema, diretores e pessoas relacionadas ao meio cinematográfico. Para Marina, “é como se estivéssemos educando todo mundo a entender a história do mundo através do cinema”. Tudo para que a audiência desenvolva conversas e saia transformada da sessão e não fique inerte a mensagem da obra.
Para os associados à MAZ, que são cerca de 400, entre artistas que têm uma ligação com a associação, alunos e parceiros que mantém a instituição viva, a entrada será gratuita. Já para a população em geral será cobrado um valor simbólico que será convertido na manutenção do espaço e benfeitorias à sociedade, como cestas básicas.
Filme comercial x filme independente
“O Cinemaz surgiu do desejo de enaltecer a cultura local, fazer arte que retrate a vivência do brasileiro. Inicialmente, através da MAZ – Associação Artística Marina Azze, a necessidade era trazer para região um festival de cinema independente. O que aconteceu em 2021, com mais de 700 filmes, do mundo todo, inscritos. Varginha recebeu cineastas de todo o Brasil.
“Após esse feito, o que faltava para a cidade, que é cobiçada pelos envolvidos com o cinema na região, era um formato de exibição das obras para que a população pudesse apreciar. “Só falta um Cineclube com a realização do filme, mais o debate com o público para envolver a sociedade”, destaca Marina.
Por todo o Brasil, as produções cinematográficas são dominadas por produções estadunidenses, as salas de cinema são de filmes estrangeiros e comerciais. O market share de exibição internacional, ou seja, a participação de produções cinematográficas que o Brasil importa ultrapassa 75%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
“É muito cruel como é feita as coisas no país em relação ao cinema, porque ‘a gente não veste a roupa norte-americana’, a gente é brasileiro”, pontua Marina. A cultura brasileira, no consumo da sétima arte, permeia outras realidades. “A gente é educado a assistir os filmes americanos. O público está compromissado a assistir aos filmes comerciais, o que está tudo certo, mas tem tanta coisa legal que a gente precisa ver, tanta coisa para gente debater”, ressalta.
Já para aceder a própria cultura e apropriar dos sentidos de suas raízes, os brasileiros encontram barreiras para alcançar as expressões artísticas de identificação. “O grande público não tem acesso a não ser pelos festivais. A nata do cinema muitas vezes não chega a todos”, conclui.
Para Marina, é um trabalho que depende de incentivos, já que não tem como competir com o mercado. “O cinema independente é contramão de tudo, é a arte viva, é arte livre de padrões e preconceitos. Como vou divulgar para todo mundo se a essência é a especialidade de cada um”?
Regionalização
O cinema é um espetáculo que representa a vivência das pessoas, seus conflitos e desejos, as referências de um povo, o que configura moldes de construção de uma nova sociedade de esperança e objetivos. “O cinema é uma arma muito perigosa de dominação ideológica e é importante que o cinema independente tenha uma grande voz”, define.
Marina enfatiza que seu desejo com o Cinemaz é oferecer assimilação da sua gente. “A regionalização faz com que todo mundo queira ver o seu povo”. E com isso impulsionar cada vez mais a arte varginhense, “por isso o cinema independente vem abrindo portas a festivais e Varginha tem se tornado polo, porque estamos entrando em festivais.
Para que isso continue acontecendo, Marina pede para dar atenção a sociedade ao redor. “Não confunda interior com inferior. A gente pode ter muito mais voz se a gente olhar o que é de dentro e a gente precisa dar mais vasão para os talentos locais.
“A gente espera que através do Cineclube possa ter mais um point de cinema em varginha”, conclui.
Ato político: o carimbo na nossa realidade
Arte marca a realidade, uma descrição político-social do seu tempo. O cinema é uma ferramenta atemporal que conta história e faz história. Para a idealizadora do Cinemaz “o audiovisual é considerado a sétima arte porque engloba todas as artes, é a arte mais potente e não morre, pode ser reproduzido milhões de vezes. É como se a cidade se reafirmasse anos e anos”, defende.
Por mais que o impacto cultural dos artistas tenha reconhecimento em festivais mundo afora, pelo poder público ainda é precário. “A MAZ, por exemplo, tem mais de 300 prêmios de cinema internacional e nacional. A política pública ainda está encaminhando”, aponta Marina.
Aos poucos, essa realidade vem se modificando e olhos mais atenciosos vêm chamando a atenção. Há uma mudança significativa em setores públicos que começam a apoiar e promover a arte sabendo da sua importância no contexto cultural para a cidade.
O Cinemaz foi aprovado no Edital de Cultura da Instituição BRZ Dona Neném e o processo tem previsão de um ano para concluir. “A gente está com pressa, mas se a gente conseguir fazer antes vocês serão os primeiros a saberem”, conclui com entusiasmo Marina.
Conheça Marina Azze e MAZ