Antonio Almeida, 71 anos, é um cineasta nascido em Cambuquira, cidade do Circuito das Águas no Sul de Minas, que vem colecionando grandes roteiros para a nossa região. Seu primeiro contato com as Mariposas foi em 2019, na Mostra Audiovisual de Cambuquira e cá estamos para contar a história de um cineasta sem tema e atemporal.
Antonio veio à cabeça como uma personalidade de relevo na cultura da região, como muitas outras não tão conhecidas, mas sempre muito ativas e criativas. Seu último curta “Pra não dizer que só falei das flores” está protinho e pode ser acessado no YouTube. Segundo ele, a trama é ‘uma tentativa de mostrar para aqueles que não viveram a ditadura, o que aconteceu’.
A propósito, Antonio não é só filho e neto da ditadura como todos nós, viveu na pele seus acontecimentos. Aos 12 anos se mudou com a família para Brasília. Aliás, passou a maior parte da vida por lá. Fez vestibular para cinema e cursou por um ano. Depois acabou se envolvendo com o movimento estudantil e a política tomou conta dos seus passos.
Foi embora do Brasil e na época sofreu com a ditadura; uma história que ainda iremos contar. Retornou, e aos 48 anos deu sequência na carreira de cineasta, que já completa 20 anos.
Hoje ele ressalta que faz cinema do jeito que dá, se reinventando e participando de festivais. “Sou um cineasta sem tema. Faço o que dá na telha”, confessa.
Este ano, ‘Pra não dizer que só falei das flores’ está concorrendo no Fest & Arte, evento anual, realizado no Centro Cultural Parque das Ruínas, no charmoso bairro de Santa Teresa – Rio de Janeiro. Até dia 30 deste mês é possível assistir aos 10 curtas selecionados e votar. A exibição dos filmes será dia 8 de dezembro.
Nesse espírito ele anda evocando a obra do português Fernando Pessoa, trata-se da releitura do texto ‘O Marinheiro’ com o qual teve contato em 1970 e em 77 fez um texto adaptado para o teatro. Agora no seu 32º tratamento, nasce ‘Cicatrizes’, longa história em formato de curta.
De acordo com o cineasta, o universo evocado no filme transcende o espaço físico da representação. As ações foram abolidas, Antônio se fixou nas expressões. “Duas mulheres conversam enquanto a noite custa passar. Eu investi na imobilidade. As palavras foram a encenação sem ação”, ressalta ele.
O curta ‘Cicatrizes’ deve estrear no início de 2022, mas você já pode conferir o trailer. Para Antonio, muitas pessoas têm feito cinema na região, mas ainda falta incentivo público. ‘Cicatrizes’ teve a chance de incentivo cultural no valor de 140 mil reais, mas não arrecadou nada. O roteirista teve que tirar do próprio bolso e ser econômico, é claro.
Para Antonio, ser cineasta é um vício’, é como um ato de resistência, ele sempre procura voar mais alto e sonhar! Que assim seja sempre e que o cinema sulmineiro ganhe o incentivo que ele tanto precisa para que os voos sejam cada vez maiores.