Crítica | ‘Causos da Política’ – Marcus Madeira
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‘Causos da Política (acontecidos em Varginha)’ de Marcus Madeira, lançado no apagar das luzes de 2023, é uma publicação irreverente, criativa, esclarecedora e simples de ler. Madeira é um dos observadores políticos mais inteligentes e astutos que Varginha já produziu.

Diferente de historiadores e cientistas políticos, que tendem a concentrar-se no que os líderes realizaram, avaliando-os como eficazes ou não, Marcus concentra sua prosa nos bastidores, não dos feitos políticos, mas dos próprios políticos enquanto sujeitos.

Com meus 35 anos de idade, desconhecia muito das características dos personagens que o livro apresenta. Como em uma conversa, dá para sentir a voz do autor conduzindo a leitura, o que sempre caracterizou seus textos, aliás, coisa típica de jornalistas experientes.

Seu mérito é justamente traduzir que a vida política não se resume a grandes feitos. Sua despretensão é uma dádiva. Não encontramos nada sobre os jogos de poder das forças que tencionam a sociedade varginhense, tampouco temos um manual sobre quem fez o quê, com quem, como e quando. Madeira não vai ganhar um Prêmio Pulitzer pelo livro (problema do Pulitzer), mas, com toda certeza, ganhará o prêmio “Melhores do Ano” do empresário varginhense Paulo Sérgio que, aliás, tem de estar no próximo livro.

Outro ponto positivo: Marcus, em momento algum, mesmo que tenha vivido alguns dos muitos causos tratados em sua obra, se coloca como protagonista, empilhando opiniões. Não é um livro de opinião. Contrariando o ditado, é um livro que pode e deve ser julgado pela capa. Nos oferece, não só, fatos sobre políticos, seus trejeitos e peculiaridades, mas também narra histórias de pessoas comuns e suas relações com a vida pública.

“Hoje são todos amigos”. Esta frase você encontrará em alguns dos causos, ela serve para nos lembrar que na política nada é para sempre, pois o “para sempre, sempre acaba”, como diria o poeta. Sem spoiler, temos causos que passam pelo nazismo, Dercy Gonçalves, Ulysses Guimarães, Dilma Rousseff com o ET de Varginha e outros. Se tiver uma rede em casa, deite e leia em uma toada só, a satisfação é garantida.

Como reflexo da política que temos, os grandes protagonistas dos causos tem um padrão muito comum que a capa, por sinal, revela. Isso diz muito sobre a nossa sociedade local. Humanizados ou não, os políticos varginhenses ainda têm a mesma cara, pelo menos, os que ascendem ao poder. Essa falta de diversidade na obra pode afastar leitores e leitoras que estão cada vez mais interessados em se ver representados.

Não é um livro 5 estrelas porque, como é comum nesse tipo de apanhado, temos causos muito curiosos e cativantes e outros que, talvez, não merecessem a publicação. Mas o crédito de Madeira é total pelo resultado e pelo estímulo à nossa memória.

Por fim, o livro apresenta uma segunda parte que, esta sim, tem um viés mais histórico. Em um dos textos, Madeira nos lembra que Varginha teve um pelourinho (coluna onde escravizados eram torturados). Nesse período, escravizados representavam 30% da população local.

Hoje, de acordo com o IBGE (2022), pretos e pardos são 45,80% da população da cidade, a mais diversa entre os maiores municípios do Sul de Minas, mas esta diversidade está longe da capa e dos causos, por isso, a história já está fazendo a crítica, e eu também. Mas isso não tira o mérito da obra. A obra retrata a sociedade.

Parabéns Marcus Madeira pelo excelente livro.

 

Texto: Wender Reis