Cativo, álbum de estreia do trespontano Clayton Prósperi, nasceu na dualidade da própria palavra. Segundo ele, foi concebido em época de pandemia e carrega os dois sentidos, de estar preso, fechado, mas também de cativar, despertar. O produtor sugeriu o nome caminhante (título de uma das faixas do disco), mas Clayton gostou mesmo de cativo. Então, Cativo ficou.
Polifônico, repleto de vozes e instrumentos que dialogam, Cativo possui oito faixas que surfam nas ondas do mar de Minas, abordando temas como amor, fé, poesia e história. O albúm foi concebido há cerca de 4 anos por incentivo de amigos e colegas músicos.
E nasceu recheado de parcerias como Toninho Horta (Vencedor do Grammy Latino com ‘Melodias Montanhosas de Minas’), Ismael Tiso, Edson Penha, Sarah Abreu, Talis Júlio, Maurício Ribeiro, Valmir Gil (Banda Mantiqueira), Tutuca, Teco Cardoso, Eneias Xavier, Dedê Bonitto, Eduardo Sueitt (premiado no BDMG Instrumental), Victor Mendes e Marco Lobo.
Ainda falando sobre parcerias, Prósperi afirma “cada um vai colocando um pedaço de si no disco. Aprendi isso com Milton Nascimento, o que remete ao Clube da Esquina.” Clayton Prósperi lança Cativo em uma época em que a música mineira está renascendo.
Segundo ele há movimentos ‘interessantíssimos’ no estado, com destaque para o Sul de Minas. O compositor destaca Cassius Klay, com ‘Colar de Bárbara’ e participação de Compasso Lunar, e Ismael Tiso com ‘A Velha que a casa escondia’. Segundo ele, ressurge o melhor da qualidade da música Sul Mineira, quando o país carece de boa música, de arte verdadeira.
Pianista formado pela UFMG e há 20 anos professor nos conservatórios de música de Três Pontas e Varginha, Prósperi começou a estudar música na sua cidade natal. Seguiu os estudos no conservatório de música de Varginha e na Academia Lourenço Fernandes fez curso técnico em piano, até se graduar.
Clayton veio de uma família musical, imersa nas tradições de serenatas e serestas; o irmão estudou piano clássico, a mãe tocava acordeão e piano, o avô foi flautista e saxofonista de banda tradicional em Três Pontas. Ele destaca ainda a proximidade das famílias Prósperi e Tiso, italianas imigrantes, ambas muito ligadas à tradição musical da cidade.
“O sonho de ser compositor me acompanhou desde criança. Eu gostava de observar as fichas técnicas de vinis e CDs,” conta Clayton, que integra o grupo Compasso Lunar, formado em 2015, em Três Pontas. A banda se dedica ao rock progressivo com músicas autorais e releituras de grupos do progressivo mineiro. Essa é mais uma história para as mariposas contarem!
De muitas vozes e estilos
Prósperi se considera um arranjador e para ele os pianistas sempre pensam com cabeça polifônica. “Sempre ouvi quartetos vocais desde a adolescência como Boca Livre, 14 Bis e bandas progressivas como Yes e Genesis. As minhas canções são concebidas com os arranjos e sempre fui fã de grandes arranjadores presentes nos discos como Tom Jobim, Egberto Gismonti, Dori Caymmi e Milton Nascimento.”
Ao falar sobre a faixa Cativo com Clayton, ele confessa seu universo pessoal cheio de bossa nova e jazz, destacando artistas como, João Gilberto, Billie Holiday, Sarah Vaughan, Chet Baker e Miles Davis.
Sobre a faixa ‘Caminhante’ (parceria com Talis Júlio), a Mariposa disse a ele que se lembrou de imediato de Heitor Villa- Lobos e seu Trenzinho Caipira. Clayton disse que não há uma correlação intencional com a música do maestro, mas confirmou a rítmica do trem, também revelada na faixa Vinheta da Quietude (Inquietação), parceria com Edson Penha.
Impossível não ficar tocado com a faixa Inquietação. A mariposa se emocionou! A suavidade da voz de Clayton se une à força do timbre de Sarah Abreu na interpretação. Segundo o músico, trata-se, na verdade, de uma vinheta instrumental de violoncelo e piano vocalizada, feita na década de 90. Uma letra romântica, de um amor que nunca foi alcançado, nas palavras do letrista Edson Penha.
“A canção Feira da fé é um convite à reflexão do que é a igreja nesse mundo, uma crítica à igreja que consome, que só pensa no poder, lucro e dinheiro.” A música questiona ‘onde está esse deus acima de todas as coisas?’ O compositor acredita que esse deus existe na união e na comunhão.
Para Clayton fazer arte é complicado hoje em dia. “Para sobreviver mantenho a carreira de professor, junto com a de intérprete e compositor. Ser professor me completa, tive muitas experiências e vivências interessantes. É muito bom receber uma criança, ver todo o desenvolvimento dela passo a passo e ela continuar o estudo.”
“A gente luta para a arte sobreviver com a cultura desgastada e deixada de lado. Mas acontecem pérolas na vida da gente, momentos preciosos como meu encontro com Milton Nascimento, que gravou ’Eu pescador’, canção minha com Haroldo Júnior.”
Em Cativo, Clayton também faz uma homenagem ao poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, à geografia de Minas, suas belezas naturais e inconfidências, ‘um mar de montanhas poéticas’ segundo o compositor.
O álbum Cativo, está disponível nas principais plataformas de streaming e também no Youtube. Quem quiser adquirir o CD físico pode acessar a Tratore ou falar com Clayton pelo Instagram ou Facebook. O selo do disco é Embornal Records, sobre o qual já falamos por aqui. A Mariposa se despede cativa de Cativo e cheia de inspiração para outros voos!!