O filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, oferece um olhar sensível e profundo sobre a dor e a resiliência de uma família brasileira durante o período de repressão da ditadura militar. Baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, o longa retrata o desaparecimento de seu pai, o deputado Rubens Paiva, brutalmente perseguido pelo regime. A história é contada através dos olhos de sua mãe, Eunice Paiva, que enfrenta uma batalha incansável pela verdade e pela memória do marido.
Com um elenco de peso, a obra traz Fernanda Torres no papel de Eunice Paiva no início da narrativa, retratando o período de angústia e resistência logo após a prisão de seu marido, Rubens Paiva. Ao longo da história, acompanhamos a transformação de Eunice, que nos momentos finais é interpretada por Fernanda Montenegro, cuja atuação confere uma profundidade emocional à personagem, evidenciando o impacto de anos de luta e busca pela verdade.
Selton Mello assume o papel de Rubens Paiva, representando com intensidade a trajetória do deputado que desapareceu em 1971, após ser preso e torturado pelas autoridades militares. A combinação dessas atuações poderosas, somada à direção sensível de Salles, cria uma narrativa que emociona e conscientiza, revelando as consequências do autoritarismo.
Ainda Estou Aqui tem sido amplamente aclamado pela crítica, destacando-se como uma das produções mais sensíveis e bem realizadas do ano. O filme conquistou uma indicação para representar o Brasil no Oscar 2025, na categoria de Melhor Filme Internacional. A estreia do longa nos cinemas brasileiros aconteceu no dia 7 de novembro, recebida com entusiasmo pelo público e pela crítica. A direção de Salles, que aborda com respeito e sensibilidade o trauma familiar, juntamente com as atuações emocionantes de Torres, Montenegro e Mello, fizeram desta estreia um momento marcante para o cinema nacional, resgatando uma história histórica e conectando passado e presente.
A Ditadura Militar no Brasil e o Ano de 1970
A ditadura militar no Brasil teve início em 1964, após o golpe que derrubou o presidente João Goulart, instaurando uma era de repressão e censura. Em 1968, com a edição do Ato Institucional nº 5 (AI-5), a repressão aumentou drasticamente, autorizando o fechamento do Congresso Nacional, a cassação de mandatos, a suspensão de direitos políticos e a intensificação da perseguição a opositores do regime. O ano de 1970 marcou o auge desse endurecimento, com práticas de tortura, desaparecimentos e assassinatos de opositores, incluindo políticos, estudantes, intelectuais e artistas.
Ainda Estou Aqui coloca esse cenário em foco ao contar a história de Rubens Paiva, que foi preso, torturado e desapareceu nas mãos dos militares. A família Paiva representa as milhares de famílias brasileiras que foram violentadas pela ditadura, muitas vezes sem nunca conseguir respostas sobre o paradeiro de seus entes queridos.
A importância do Resgate da Memória
O filme de Walter Salles, assim como o livro de Marcelo Paiva, resgata essa memória histórica, tratando da importância de jamais esquecer as atrocidades cometidas para que elas nunca se repitam. A narrativa de Ainda Estou Aqui reforça a necessidade de se manter viva a memória da resistência e de celebrar a coragem daqueles que lutaram pela liberdade.
Ao relembrar o sofrimento de famílias como a de Rubens Paiva, o filme cumpre o papel essencial de denúncia e de homenagem, recordando o preço pago pela democracia no Brasil e o impacto do autoritarismo na sociedade.