Olá pessoa, criatura, indivíduo, gente, ser, sujeito, organismo bípede que se locomove pela terra através de seus dois membros posteriores, caminhando, correndo ou pulando, seja bem-vindo ao Mariposas Espaciais. Obrigado pela visita, fique à vontade para respirar breves silêncios neste mundo de ruídos.
O ano é 2022, um domingo entre tantos, molecada reunida para ser e estar no seu mundo, naquele que, por hora, lhes cabe: uma pista de skate escura e ignorada pelo verniz público.
Pista lotada, banho de brisa, performances, galera curtindo o som, se divertindo com a playlist massa e a parcialidade do álcool. Um bando de jovens tomando para si um espaço público que deveria servir com dignidade a convivência e a prática de esporte.
Mobilizados pelo skate, pelo hip hop ou por ambos, a convivência está lá, o esporte idem, contrariando, como possível, o abandono.
Talvez não haja um líder, um mentor ou uma instituição predeterminando diretrizes a serem seguidas no momento de ser e estar neste espaço. Há, no entanto, a regra da rima, do improviso, da batalha pelos melhores argumentos, pelas frases mais carismáticas e potentes. O baile acontece.
Num mundo previsível, onde a cultura se burocratiza facilmente, um microcosmo de esperança, uma democracia possível, uma democracia que a molecada inventa na base da rima que assopra a jangada rumo ao sol.
Se vão chegar ou não é difícil saber, mas de qualquer forma já arrastam muitos, se chegarem, arrastarão ainda mais.
Essa expressão coletiva, que se prolifera por todo o Brasil, das capitais ao interior, aquecendo as ruas, reivindica o direito à cidade a partir dos incômodos de uma juventude pouco ou nada conhecida por seus antecessores.
As vozes em cena são outras e o inegável fato de estarem chamando cada vez mais atenção pode reconfigurar velhos espaços de poder. Prova disso é o alcance e a projeção que a geração mais nova de artistas do rap, uma das principais trilhas sonoras dos jovens da periferia, vem ganhando.
Rompendo barreiras de gêneros musicais, artistas como L7nnon, Orochi e uma leva de outros são febre entre jovens de todas as classes sociais cantando a ostentação de poder ser o que se é, no lugar onde o preconceito pode até chegar, mas não atinge, que é a fama.
Vida longa a ‘Batalha da Pista” em Varginha, vida longa ao rap e a molecada da resistência. Que brilhem na escuridão.
Agradecido pela leitura, evidentemente o dito é infinitamente menor do que o não dito, mas isso já é outra história, a sua. Suas críticas e sugestões são bem vindas e você pode compartilhar se quiser.
Texto por Wender Reis