1 ano de “Braia e o mundo de cá”
Braia e o mundo de cá
Braia e o mundo de cá

Depois do mundo de lá, veio o mundo de cá. O álbum’ Braia e o mundo de cá’, que completa um ano neste mês, começou a ser gestado em 2013, quando Bruno Maia montou seu estúdio, também chamado Braia (o Braia Stúdios).

Maia, também líder do Tuatha de Danann e Kernuna, nasceu em Belo Horizonte,  mas veio ainda adolescente para Varginha. Apaixonado pela Irlanda, esteve sempre envolvido pela literatura e pela música daquele mundo de lá.

O trabalho atual, claro, ainda remete fortemente àquele tempo de antes, mas será que os Braias de hoje ainda seriam ‘os ovos da galinha que fugiu’? Na viagem da mariposa, o trecho da música ‘A pinga do duende maluco’ do primeiro, o ‘Braia e o mundo de lá’, de 2007, remete a uma fase embrionária, um tempo de formação, desenvolvimento.

Sem dúvida, um trabalho sofisticado, progressivo e polifônico, cheio de palavra poética. Mas os Braias no mundo de cá talvez já não sejam mais os ovos da galinha fugitiva, os filhotes nasceram e já ciscam por aí com toda desenvoltura, órfãos bem sucedidos.

Dessa vez, o músico queria fazer ‘algo bem brasileiro’, onde ele ‘tocaria banjo com ornamentos de música irlandesa’. Ele contou, na época, com a sugestão de ritmos de Fabrício Altino, companheiro dele em gravações e produções no estúdio.

A produção de ’Braia e o mundo de cá’ foi longa; ainda passou por uma pandemia e muita gente se envolveu: o baixista Anderson Silvério, o guitarrista Kiko Shred  e os parceiros Alex Navar, Edgard Brito, Giovani Gomes e Nathan Viana do Tuatha de Danann. Também  Daiana Mazza, do Braia, o irlandês Kane O’Rourke e Felipe Andreoli, baixista do Angra.

banda Braia

 

Percorrer o caminho de Braia é realmente passear pelo mundo de cá, com detalhes das Minas Gerais, ancestral e atual, um infinito íntimo e público daquelas coisas que sempre estiveram e que ainda assim nos surpreendem.  O álbum instrumental, ‘despalavrado’, revela as histórias, a linguagem, os sentimentos de encanto e rebelião; tudo enfim que se extrai desse universo.

A inspiração da faixa de abertura Sabarabuçu  é a montanha cheia de esmeraldas nas palavras dos índios. A música revela o encantamento das pedras preciosas e minérios, o prenúncio das ‘veias abertas da América Latina’. Feita na junção de temas diversos em sequência, faz-nos pensar nessa natureza amotinada, a riqueza atiçando a sede de poder, a exploração.

 

A montanha na verdade era a Serra da Piedade, em Caeté, hoje um cenário religioso, que continua a assombrar.  E o ‘Tal dia do Batizado’, último tema do set, traz São João Del Rei, a devassa e personagens históricos. Enquanto isso, ‘Rio das Mortes’ traz suspense, com ares distorcidos, a agonia pela liberdade. ‘Braia no mundo de cá’ provoca quem ouve quando sugere imagens, fatos e emoções do mundo, sem dizer palavra.

A música Diadorina é pura faceirice, baião no sertão das Minas, na onda ‘celta irlandesa’, uma ‘obscessão’ de Bruno Maia. Aqui a literatura de Guimarães Rosa vem despertar a música de Braia para esse mundo de cá, na figura do sertanejo, das Minas que se confundem, o próprio mosaico do Brasil.

Pois é, ‘Puizé celta uai’, essa expressão confirmatória do lugar de estar ou apenas uma assertiva vaga para um monte de sentimentos contraditórios é a sacada do músico Bruno para falar do jeito de ser mineiro, e ele realmente assume suas origens nesse jeito de falar. ‘Capão da traição’ um prenúncio, aquilo que se anuncia no decorrer dos acontecimentos é redenção num jazz que lembra as batidas frenéticas daquele estilo.

E como se não bastasse ainda tem ‘Tira Couro’, dedicada Januário Garcia Leal (1761 –1808) um homem considerado bom e trabalhador que jurou vingança e seguiu criminosos, eliminando um a um.  Aliás, o personagem de São Bento do Abate foi tema do vídeo “Sete Orelhas: Herói Bandido” (2012), também produzido e lançado por Bruno Maia.

Bem, a mariposa levaria muitas linhas para caminhar por todo ‘Braia e o mundo de cá’. São 12 faixas preciosas para desentender a palavra e compreender as ideias contidas no som a revelar as esquinas e besouros de Minas.

Por hora, fica a torcida para que a temporada pós-pandemia seja de encontros regados de arte.  E segundo Bruno Maia, já tem show chegando por aí! ‘Braia e o mundo de cá’ está disponível no site.